Um caminhão com dupla finalidade: transportava carga e passageiros. A cabine ou "boleia" é modificada, dando lugar a três ou quatro filas de bancos, cada uma recebendo cinco ou seis passageiros. Esta improvisação ocupava metade do comprimento do veículo. O restante da carroçaria recebia a carga. Sua importância é maior do que se supõe à primeira vista.
Partindo da localidade Auto Alegre que era a sede das atividades, fazendo a "linha" uma ou duas vezes por semana à cidade de União, José de Freitas e Teresina, distantes muitas vezes mais de vinte léguas, o Misto do Sr. José Maxmiano representa a própria historia do transporte publico na região norte freitense.
- Uma tabuleta de madeira, pintada a capricho, indicava, do alto do pára-brisas, o destino: União – Lagoa Alegre – Teresina.
O motorista, mais conhecido como “Chofer”, era figura importante, popular e respeitado pelo seu grande valor "social". Por onde passava todos lhe conheciam, acenavam, cumprimentavam. Trazia notícias, recados, cartas, bilhetes, volumes, etc.. . Basta pedir.
Não tinha hora certa para partir, não havia pressa. Era de madrugada, de manhã cedo ou à tarde, depois da feira. Quando o carro estava cheio de gente e de trastes, tocava a buzina, prolongada e insistente. Mas, não ia sair não. Era só para avisar. Não havia perigo, ninguém perdia o "horário". Depois buzinava outra vez, mas agora ia partir. Já com o motor funcionando, buzinava e lentamente começava o percurso. Ainda alguém vinha correndo, ele pára, os passageiros não demonstravam a menor reclamação. É uma carta ou um recado. . .
Já na estrada desenvolvia velocidade, deixando atrás de si a poeira vermelha. Os passageiros já se acostumaram, traziam uma toalha ou lenço ao pescoço e cobriam o rosto ante o pó. Todos os lugares têm um nome com o qual são conhecidos ou referidos: Alto do Meio, Tamboril, Pelo Sinal, Espinhos, Cajueiro, Corredeira, Ponta do Mato, etc. O motorista era sempre solícito e procurava tornar-se útil fornecendo informações. No percurso ia apanhando passageiros, que postados à beira da estrada, com seus trastes, nem fazem sinal de parada. Já se sabia, pela atitude ou pelo trajar. Subiam e escolhiam calmamente um lugar, depois de ter cumprimentado os passageiros e ajeitado a bagagem. Esta era constituída quase sempre de sacos brancos (tipo de farinha). Quando num mesmo saco transporta vários cereais usava de um expediente curioso: no fundo colocava arroz, dando um nó logo a seguir, despejava milho e novamente outro nó e finalmente o feijão, já na boca do saco, quando dava o último nó. Se fossem para a feira levavam para vender coisas da terra; na volta traziam querosene, fosforo, tecido, baldes, etc.
- Atuando em um âmbito regional bem delimitado, o "Misto", do Seu Zé Maxmiano, caminhão adaptado às contingências daquela época, inegavelmente deixou sua contribuição histórica e está marcado na memoria de todos nos que um dia utilizamos seus serviços.